No ano de 2015, terceiro de seu pontificado, o Papa Francisco escreveu a Laudato si’, convidando-nos a rever a maneira como estamos construindo o futuro do planeta e a valorizar os esforços de muitos movimentos ecológicos comprometidos com o cuidado da Casa Comum. Na mesma Encíclica, o Papa denuncia a indiferença, a acomodação e a falta de solidariedade na defesa da criação. Estamos prestes a comemorar o quinto aniversário de publicação da Laudato si’ e não podemos deixar de ter presente o questionamento que o Papa nos dirige: “Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que nos sucederão, para as crianças que estão crescendo?”. Não basta, portanto, ler a Encíclica. Em um verdadeiro processo de recepção, precisamos colocar em prática as orientações contidas neste documento eclesial de forte impacto socioambiental, pois cuidar da obra de Deus é a primeira exigência bíblica. Ao ser publicada, a Encíclica foi chamada “O Evangelho da Ecologia”. Seu conteúdo nos remete às páginas bíblicas da criação: “Deus viu que tudo era bom” (Gn 1,31). Convoca-nos assim para assumir o cultivo e o cuidado da obra tão rica e tão fértil que o Criador deixou em nossas mãos. A Laudato si’ toca de perto temas sociais e ecológicos, ampliando o horizonte da missão da Igreja nos tempos atuais. 

Enquanto Missionários Vicentinos, devemos ter a clara certeza de que os pobres são os mais afetados e prejudicados pela ganância dos “poderosos deste mundo” e pelo descuido da Casa Comum. O número 90 da Encíclica nos oferece uma luz para a vivência de nosso carisma: “Deveriam indignar-nos, sobretudo, as enormes desigualdades que existem entre nós, porque continuamos a tolerar que alguns se considerem mais dignos do que outros. Deixamos notar que alguns se arrastam em miséria humana degradante, sem possibilidades reais de melhoria, enquanto outros não sabem nem sequer o que fazer com o que têm, ostentam vaidosamente uma suposta superioridade e deixam atrás de si um nível de desperdício tal que seria impossível generalizar sem destruir o planeta. Na prática, continuamos a admitir que alguns se sintam mais humanos que outros, como se tivessem nascido com maiores direitos”. Para nós, chamados ao compromisso com o serviço e a evangelização dos pobres, “nossos mestres e senhores”, a Encíclica do Papa Francisco é uma motivação e um compromisso para ouvir e responder ao grito dos pobres que ecoa no grito da terra, de modo a construir uma nova mentalidade, dispondo-nos a mudar hábitos e costumes e a promover assim a sustentabilidade no planeta.

Nos dias atuais, precisamos aprender a conjugar o verbo cuidar, na contramão da cultura do descarte, assumindo um compromisso real e crível com a preservação da Casa Comum. Através da Laudato si’, o Papa nos mostra que os problemas ecológicos são desdobramentos de questões sociais de grande incidência em nossa vida diária. Com efeito, a ecologia integral engloba vários aspectos e não se reduz a nenhum deles em particular: demográfico, sanitário, econômico, agrário, ambiental, etc. Tudo está interligado! A degradação dos recursos naturais do planeta em prol de um desenvolvimento econômico mesquinho afeta toda a população, principalmente os mais pobres, frequentemente submetidos à carência de recursos básicos, como água potável, ar puro, solo fértil, o que transtorna sua qualidade de vida e sobretudo as condições financeiras daqueles que dependem da terra para prover o sustento da família.

Ao reler a Encíclica, tomamos consciência de que o cuidado com a Casa Comum não é apenas mais um convite dirigido à sociedade, mas sim um dever de consciência e uma tarefa inadiável. É preciso conversão, gratidão, disposição e amor para levar em frente essa convocação que o Papa nos dirige. Não podemos permitir que os pobres deixem de sonhar! Devemos, sim, sonhar com eles, ir à luta com eles. Aproximar e cuidar são verbos que sintonizam com o carisma vicentino. Jamais deixemos os pobres sozinhos! Façamos nossos seus anseios, suas necessidades e suas esperanças.

Pe. Gustavo Alivino Silva, C.M

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